O que ninguém fala sobre inovação

Urutu - Tarsila do Amaral

Urutu - Tarsila do Amaral

O lema “Inovar ou Morrer” já conquistou quase todas as empresas do planeta, tradicionais ou não.

O problema é que isso acontece, na maioria das vezes, como uma reação a alguma “ameaça exterior”, normalmente corporificada nas start-ups que usam a tecnologia como fundamento e têm o poder absoluto de subverter mercados da noite pro dia.

Raramente, o impulso para inovar nasce de dentro para fora, isto é, de uma ação propositiva, honesta e corajosa da empresa querer fazer diferente, se reinventar ou mesmo questionar seus próprios paradigmas e sistemas de crenças (embora, digno de nota, seja genuíno o desejo de mudança nas pessoas, times e lideranças que compõem essas organizações).

Conceitos “novos” como exponencialidade, inteligência artificial e uso de algoritmos são repetidos mecanicamente por aí, e fazem com que o Vale do Silício se torne a Meca de milhões de jovens que desejam trabalhar com tecnologia e inovação.

Pois bem, será que todos conhecem o real sentido dessa tal inovação? O que tem por trás dessa palavra tão desgastada?

Inovar é ousar

O primeiro PONTO (e mais importante!) é desmistificar a ideia de que inovação é sempre algo bom.

Como pode ser positiva uma ação que – via de regra – traz riscos, conflitos, incertezas, desconfianças e resistências de tais proporções que o resto do mundo, vivendo na zona de conforto, desconhece (e deveria dar graças a Deus por isso)?

É importante considerar que, uma vez que tais ações são tomadas, dependendo da forma como são empreendidas, podem implicar consequências catastróficas e levar pessoas e organizações ao colapso, sendo bem mais prudente ter deixado as coisas como eram antes.

Inovar é lidar o tempo todo com a dúvida. A única garantia é que o resultado não será igual ao imaginado na concepção.

Inovar é ter resiliência

Ora, não pode ser tranquila a proposição de uma ideia, projeto, produto ou serviço cujoS resultados e impactos são, por definição, incertos.

Neste contexto surge uma demanda explícita por qualidades muito fortes e difíceis de se desenvolver, como inteligência emocional, audácia, autonomia, interdependência, confiança na intuição e certo otimismo, sempre acusado pelos céticos de não ser realista.

 O/A criativo/a desenvolve, ao longo de sua trajetória, uma capacidade sobrenatural de lidar com a angústia de nunca saber com precisão para onde se está indo e, em um estágio mais alto de desenvolvimento, torna-se capaz de usar este cenário de complexidade e incerteza ao seu favor, aproveitando-se das inúmeras oportunidades que se desdobram em uma situação de possibilidade, afinal, as cartas ainda não estão dadas, o que abre espaço para novas construções de futuro.

Inovar é ser pioneiro/a, ser protagonista

os/as criativos/as são autores/As de suas próprias obras – coletivas ou não – E devem responder pelo que fazeM, para o bem e para o MAL.

Grosso modo, o ato de criar e ser pioneiro se confunde com o ato de “dar a cara a tapa”, pois nunca se sabe o que virá pela frente. Ter resiliência e “musculatura” para lidar com obstáculos e críticas é tarefa hercúlea.

Já ter a grandeza de reconhecer erros e a ousadia para “mudar a rota” quando necessário, representam o estágio mais alto de desenvolvimento de um(a) inovador(a).

Todos deveriam saber que as obras são do mundo e não dos seus criadores, de modo que um número incontável de fundadores prestaria serviço colossal às suas criações se desapegassem delas de uma vez por todas.

Inovar não é só criar algo novo

Inovação usa a criatividade como matéria-prima, mas é necessário que a primeira se torne concreta e gere algum tipo de valor.

Para se tratar de inovação, uma ideia deve ser colocada em prática e, por fim, absorvida e incorporada pelo meio que a envolve.

Um ótimo exemplo é a aviação civil, que demorou mais de 30 anos da invenção até o primeiro voo comercial, ou seja, para se cristalizar como inovação, um conceito deve ser absorvido e incorporado pelo contexto. Só este será capaz de revelar o valor que ela possui e o tamanho da ruptura que representa.

É só pensar no Uber e Airbnb que, embora existissem inúmeros aplicativos semelhantes quando foram lançados, só se tornaram inovações quando seus mercados foram de fato por eles revolucionados e hoje nem nos lembramos direito como as coisas eram.

Repare também que o período entre a invenção e a inovação encurtou ao longo do tempo: enquanto o avião no início do séc. 20 demorou pelo menos três décadas para se sedimentar, esses aplicativos do início do 21 levaram em média cinco anos para provocar um abalo sistêmico completo. A tendência é verificarmos, a cada ano que passa, uma crescente diminuição desse intervalo. Como será a inovação no séc. 22?

Independente do momento histórico em que está inserida, uma inovação deve, por definição, causar algum tipo de transformação no meio ou, mais tecnicamente, nos sistemas que a envolvem.

Assim, não podemos confundir inovação com melhoria, moda ou tendência, já que estas, mesmo sendo contínuas, dificilmente causam por si só transformações estruturais. Apenas formais.

Fetiche e perfumaria, diriam os mais céticos. Inovação incremental, diriam os menos.

Inovar não para sobreviver, mas para viver

Sobreviver no mundo dos negócios sempre esteve diretamente relacionado a gerar vantagens competitivas.

No estágio do capitalismo em que vivemos, também chamado de era pós-industrial – um cenário de mudanças exponenciais, tecnologias disruptivas e rápida obsolescência de produtos, serviços e ideias –, cada vez mais o valor das mercadorias é deslocado para o campo cultural, fazendo com que os mais valiosos assets (ativos) nasçam e às vezes permaneçam na capacidade imaginativa dos seres humanos.

Vários desses ativos não tem massa corpórea: são apenas dígitos, imagens, palavras, ideias, blockchains, bitcoins.

investir em criatividade e inovação nunca foi tão crítico, prioritário e estratégico quanto nos dias de hoje.

Mesmo assim não há garantias acerca do ROI (retorno sobre o investimento), mas sabe-se que ele virá. E virá de vários âmbitos, muitas vezes daqueles nem imaginados na concepção.

E, pra acabar...

Pensar diferente e inovar são elementos vitais para o sucesso das empresas, mas, bem mais do que isso, devem ser a própria lógica de funcionamento das organizações, pois os benefícios vão muito além do financeiro e propiciam resultados extraordinários em literalmente todos os âmbitos.

Pensar diferente e inovar são elementos vitais para uma pessoa sair da inércia e aproveitar o melhor das oportunidades ao seu redor, fugindo do vitimismo e da apatia e movendo-se em direção à plenitude, autonomia e liberdade.

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